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maio 17, 2015

Sete vidas.

Foram tempos tão cruéis e consternados, que sequer me dava conta da doença árdua e pungente a qual eu vinha carregando sobre meus ombros já saturados. Foram tempos cruéis tanto para mim quanto para você, que também se colocava à mercê de tantos tropeços que insistiam em lhe causar desordenado desprazer. Noites inócuas e medíocres, ao relento, sangrando em dor, clamando por amor e a única recompensa de tanto quereres que de mim partia, era teu repúdio e distrato total do que eu tinha a oferecer-lhe em madrugadas tão frias.

Somente eu sei a imensidão da dor amargurada e astuciosa a qual senti todas as noites trancafiada em meu quarto, entre estas alaranjadas paredes, condecoradas com musicalidade e desolação. Somente eu sei o tormento arrebatador do tic-tac do relógio insistente a bater, espancando-me a alma e o ser a cada segundo que o ponteiro ordenadamente corria. Somente eu sei como foi difícil sustentar a aparência de uma leveza inabitada em meu ser, fazendo com que todos à minha volta viessem a crer que não havia nada a me embrutecer. Somente eu sei o que foi deparar-me, após meses escondida, aquela rosa em comemoração de um ano do amor e também despedida, em cinzas tão tenebrosas e sofridas. Foram meses de morte. Dias de luta diária. Minutos que sangravam-me a alma. E segundos que se arrastavam de forma áspera e assoberbante.

Sabe, eu precisei tocar a morte, sugar o sangue a cada corte e lidar com toda desgraça e desventura para retornar-me de forma tão plena e revigorada. Eu morri. Todo este tempo eu simplesmente me mantive ali, à espreita da ruína, do pesar, do aniquilamento, alimentando-me do morticismo. Porém, quando renasci, com total vigor e amor pelo sentimento célebre de tudo que retornei a sentir e tocar, pude, então, constatar que não necessitava de nada além de mim para que deleitasse de forma plena à vivacidade do ser eterno, juntamente com os sentidos da palpitação; notei, então, que bastava somente a mim para que minha serenidade e bem-aventurança permanecessem sem ninguém para desordená-la.

E agora, então, finalmente consigo aspirar profundamente ar para os pulmões com total tranquilidade e alívio no peito, sem sofrer taquicardia a cada embeber de oxigênio para alimento do ser. Revigorei. Renasci. Evidenciei. E, então, não mais permitirei-me cair.


Goblinwand.