Total de visualizações de página

julho 06, 2012

Guichê 5, Senha: 364.

Já impaciente, adentrei à agência bancária. Um, dois, três, quatro... Exatos vinte e três degraus. Os subi. Quando então, me deparo com a multidão; o que deixou-me mais buliçosa ainda - totalmente sôfrega e frenética. Ainda tenho lá minhas crises fóbicas-sociais. Permaneci ali, de pé e esperando minha vez chegar para caminhar ligeiramente até o caixa e efetuar minha operação e ausentar-me logo dali. No entanto, quando constatei que ainda haviam trinta e duas pessoas à minha frente para serem atendidas, suspirei fundo, mantive a calma e como já estava ali mesmo, resolvi permanecer e esperar para receber meu atendimento. 

Foi então, que recostada à pilastra central da agência resolvi me manter quase que imóvel e analisar tudo à minha volta: - o senhor sentado na cadeira ao lado de onde eu estava, batendo o pé direito freneticamente contra o chão, a moça esquia, de óculos escuros, formosa, cabelos longos, segurando a criança inquieta no colo, o senhor na última fila que não cessa por um instante que seja o ato de fitar-me veementemente; chego a ficar meio sem graça e esquivo o olhar (minha aparência provavelmente deve espantá-lo, não? Obviamente!), e também o casal de velhinhos que passava por mim, ali, na minha frente, tão encantadores e sublimes. O senhor, seu marido, com o mais amplo grau de compreensão e paciência para com sua amada. Ela já fraca, debilitada pela idade, bruscamente interrompe seus miúdos passos: "Zé! Fiquei bamba! Estou tonta. Vamos parar um pouco!"; "Zé", então a acolhe em teus braços guiando-a à frente [...] "Vamos, Amélia, devagarinho a gente chega. Respire fundo que logo passa a tonteira, minha querida. Segure firme minha mão!", achei realmente de um portento escandaloso os cuidados dele para com ela, e por fim, ele, o atendente do Guichê 5. Pois bem, faltam-me palavras par expressar e conseguir verbalizar o que senti ao olhar fixamente para este. Indecorosamente fixei o olhar totalmente penetrante nele; apaixonei-me. Assim mesmo, à primeira vista, instantaneamente, encantadoramente, alucinadamente. E ele, obviamente reparou e prontificou-se de responder aos olhares de imediato, inclinando-se fogosamente em minha direção.

Mais parecia eu, em uma exposição de arte apreciando todo aquele monumento histórico, teatral e poético. Ele era uma mesclagem de sal & doce, um ogro, um "ogrodoce". Moreno, cabelos lisos, curto, negros, olhos arredondados, sobrancelha grossa e esquia. Não possui um corpo milimetricamente desenhado em forma escultural. Pelo contrário, é até meio "fofinho", o que na verdade, pra mim é ponto a mais - já que execro aquele tipinho físico totalmente robusto, rijo e possante. Ele é lindo. Até mesmo a cicatriz pequenina logo abaixo da boca, que aliás, o torna mais charmoso ainda.

O sinal das senhas toca ♪ 363 ♪. Logo me prontifico de agilizar os documentos necessários e os passos também, para não desmoronar ao passar por ele, o atendente do guichê 5. Mais um sinal irritantemente displicente já então, naquele exato momento. Pois sequer minhas pernas eu sentia mais. E as mãos? Mais gélidas que defunto nu, estirado ao chão. É minha vez. O maldito 364. Ele então abre a boca e em voz alta: "TRÊS, MEIA, QUATRO?!, já que o sinal apitou por três vezes consecutivas eu permaneci ali imóvel, inerte defronte a ele. Caminho então em sua direção. Talvez, naquele momento ali, fora o instante mais árduo que percorri. Árduo e excitante. Chego então à boca do balcão. Ele me sorri, com o olhar compenetrante: "Pois não, senhora?". Pensei: "Pois sim! Pois tudo, pora teu olhar em mim." Mas só pensei e retribui ao riso. Gaguejando, trêmula e aparentemente sonâmbula (pois não respondia por meus atos), mais parecia uma vespa besta, lerdaça e estúpida. Finalizei então minha operação, e dei a ele um "tchaaaau", daqueles mansos, brandos, domados... Ora, eu estava mais era parecendo um animal dócil e domesticado arreganhando s pernas para um qualquer alisar e  prestar carinho e atenção. 

Então dei-lhe as costas e rapidamente fui retirando-me do recinto. Vinte e três, vinte e dois, vinte e um, *pulo* - devo ter saltados uns três degraus de um vez. Chego no térreo, roleta, multidão, segurança, porta, e pronto; cá estou eu - na rua. Saio então como se nada tivesse acontecido e, de fato, nada aconteceu. Mas me encantei, apaixonei-me pelo atendente do Guichê 5, e que provavelmente sequer deve recordar-se da feição do meu rosto. Amores, desamores, encantos, desencantos e encontros e desencontros diários. Eu.


Goblinwand.