Total de visualizações de página

abril 30, 2012

"[...] Sua voz está tão longe ao telefone. Fale alto mesmo grite não se importe."

Pois então, não sei se estou fazendo o certo. Pode ser que não. Na verdade, o certo nunca foi minha opção mais valida ou viável. Depois de quase um ano que nos distanciamos, estou te ligando. É, eu estou te ligando para dizer-te o seguinte: Bem, não sei o porque realmente de estar te ligando, mas estou fazendo-o. Me sinto bem babaca, estúpida e com uma incapacidade de discernimento moral e de bom senso tremendo. Gente, para que cargas d'água estou te ligando?

Olha, estou te ligando porque meus pais estão passando o final de semana fora e estamos somente eu e minha cadela rabugenta e sensual em casa e estou a fazer torradas. Me lembro que sempre fazíamos torradas com queijo e orégano. Nós, na cozinha, juntinhos, fazendo arte. E bem, você se lembra, minhas torradas sempre queimavam (quase reduzidas à cinzas). E nem com o passar nos anos tomei habilidade na coisa: Elas queimaram. E por isso estou te ligando; pelas torradas queimadas. ... Estou te confundindo, perturbado e causando um transtorno imenso, não? Tenho ciência da minha inconsequência e meu ato inconveniente, mas agora sente-se e me ouça, e quero ouvir-te também. Pois foi necessário algumas muitas doses de uísque para impulsionar-me a agir da maneira a qual estou fazendo: Te ligando! ... As torradas. Ah, pois então. ... Bem, eu não quero falar sobre as torradas (que inclusive estão ali, acabando de serem tostadas no forno). Estou sentada no chão, um tanto quanto turvada de bêbada, bastante alterada como nota-se e amanhã provavelmente eu vá me arrepender de tudo que estou a lhe dizer. Mas hoje não. Hoje absolutamente não me permito a isso.

Eu poderia por meio deste dizer-te tanta coisa. remoer, remexer e revirar o passado e apontar a você o quão ferino, equívoco e miserável fostes comigo. O quanto me julgastes mal apontando-me o dedo na cara e maldizendo ditos faltos e citações infundadas a meu respeito (ou a falta do mesmo, como você reputou naquela noite). Mas não o farei.

Sinto sua falta. Embora com todo meu esforço e veemência eu não o queira mais. Feriu-me absurdamente uma, duas, três, quatro e vinte e três vezes. Eu o expulsei de minha vida, dos meus cabelos bagunçados assim como também são minhas idéias, das minhas mãos, do meu corpo e principalmente do âmago de meu coração. Mas veja bem, eu estou te ligando. Eu quero saber-te. Quero que exponhas, que fales e que grites. Quero tomar conhecimento de com quem tens saído, dormido, acordado, vivenciado e vivido; com quem e como tens tocado teu barco? O meu naufragou. Logo após aquela noite em que tudo se abalou, confrontou, espatifou.

Pois é, estou aqui há quase uma hora falando-te, falando-te e nada ouço. Estou lhe assustando, não é mesmo? Você se quer deu um pio. Só suspira. É duro? É pesadíssimo, não? Olha, fale alguma coisa, vai! Sei que exagerei no álcool e mais ainda na capacidade de estar fazendo isso. Mas é que tu deixastes uma marca relativamente considerável em meu peito que ainda sangria. [...] Eu, eu, eu não sei. Não sei o que pensar, o que dizer... Bem, eu ... é. *Bi bi bi*.

[...] E logo após isto, desliguei o telefone. Assim, bem bruscamente. Mas não por estar envergonhada pela exposição tremenda que fiz de minha figura dotada de transtornos emocionais. Porque olha só: Eu estampei a ele, àquele homem a quem tanto amei, toda minha bravura, e sentimentalismo, rancor e afeto que ainda sentia por ele. Eu desliguei somente pelo fato de, no dia, na semana ou no mês seguinte eu viesse a telefonar-lhe mais uma vez com o pretexto de desculpar-me pela incivilidade e descortesia do fato ocorrido.  Quando na verdade, eu só iria fazer tal ligação a você para ouvir-te mais uma vez dizer: "[...] E aí, mulher?" e afrouxar, proferir e arremessar aquela entonação cativante e a gargalhada atraente, sedutora, capitosa e embriagante que somente tu possuis. Ser vil, intrépido e energúmeno!


Goblinwand.