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março 03, 2013

Canibais de nós mesmos.


Matei-me esta noite. De forma tão brutal quanto à última vez em que fui matada, assassinada, tendo a alma esquartejada e mantida por séculos em vilipêndio profundo. Sentindo todo o peso do mundo. Queria eu não queixar-me demais, exigir demais, sentir demais. No entanto, isso não cabe a mim. Transborda de meu ser involuntariamente. Quando vejo-me, lá estou eu mais uma vez: Com a vida estagnada, a aparência amarrotada, e a vida sendo levada... Levada ao fundo do poço, cometendo suicídio por doar-me a qualquer moço.
Não tenho suportado mais o fato de tanto pensar. Dói-me. Dói-me amargo feito fel. Sinto-me presa numa torre, sendo julgada como um revel. E para não doer, eu me dôo. Ambiguamente. Dôo-me por doar-me. E dou-me por tanto doer. E sendo assim, mato-me hora-a-hora do meu viver.
Tornei-me um tanto quanto pesarosa de alguns bons anos para cá. E será que realmente “toda dor vem do desejo de não sentirmos dor?” Eu não sei, vai ver que sim, vai ver que não, só sei que tudo isso apenas dói e sangra em mim.
Não durmo há algumas noites já. Semanas, talvez. Para não parecer tão monstruosa a ponto de espantar os demais, privo-me da sociabilidade. Trancafiada permaneço por dias neste quarto de pensão. Barato, horrendo, imundo... E eu aqui ainda, me mantendo. Não possuo família, tampouco parentes. Amigos? Oh, estes já se encontram tão ausentes. Não tive filhos, matei meus pais – em mim. Não tive sequer um gato peludo pra nomeá-lo como “Xanin”. Vida prostituta essa minha. Tanto quanto eu, deitando-me a cada noite com qualquer ser vil e abjeto que algo me interesse por aí. Vago, todas as noites. Incrédula e mal-amada. Correndo atrás de qualquer um que me faça atiçada.

Estou morrendo. Sem gramas, sem dramas. De fato estou a caminho de repousar-me numa lápide talhada à lata. Barata, barata. Não como há dias, me mantenho somente cercada desse uísque vagabundo e barato e maços de cigarro, que tornaram-se meus fiéis aliados nesta luta contínua e sanguinolenta. Escrevo, escrevo, escrevo. E morro em desespero. A casa palavra verbalizada, a cada dizer proferido, eu transporto minh’alma a outro mundo; dos incompreendidos.

O cigarro trago-o fulminantemente, em total desespero. Pouco degusto-o, e logo se esvai todo o gás do isqueiro. Meu peito dói. Meu peito chia. Meu peito queima. Meu ser se esvazia. Estou morrendo. Estou morrendo seca e abandonada. Jogaram-me ao léu... Desgraçaram-me e me mantiveram vilipendiada. Eu estou morr-r-r-r... Morrendo.
Adeus, adeus, meu grande amor. Só quero que saibas que fora por ti que tudo isso se arruinou. Ao almejar-te, joguei-o para longe de daqui. Não soube cuidá-lo, então matei-o em mim. Adeus, adeus, meu grande amor!

Goblinwand.